A família veio em peso para o jantar de aniversário. Na sexta siga para copos com pessoal mais novo, e viva o cais e um bocado de música 80as e 90as. Até de manha, com um andamento que vai lá vai. PERFEITO! Sábado com muito custo lá nos levantámos, depois de 4 horas de sono. Almoço que duram horas e enquanto metade foi ver o Benfica, a outra metade seguiu para curtir os trampolins. Um fartote, rimo-nos tanto que já nem forças tínhamos para saltar. As dores musculares e o cansaço começaram a aparecer. Isso e o lábio inchado, resultado de ter caído de boca no trampolim e trincado o lábio… e queimado a cara, but all is good, passar por água e seguir aos saltos. Vale muito a pena. Saída, rumo ao restaurante com um atraso de hora e meia (os senhores do restaurante foram uns santos). Arranque para disco e chegada a casa tardia. Acordar com ainda mais dores musculares, despedidas e beijos. Nestes dias a única certeza é que nada bate o nosso seio familiar! Muito, muito amor.
Passei a maior parte dos 29 sozinha. Isto é, sem nenhum envolvimento amoroso. Não me tinha dado conta de que isto aconteceu por opção até começar a escrever estas palavras. Apesar de muitos à minha volta me questionarem e brincarem sobre eu arranjar alguém, no inicio do ano, e eu responder que sim, que estava para breve, a verdade é que a curto prazo eu sabia que estava melhor sozinha. Eu precisava ficar sozinha! Precisava digerir a informação e todos os acontecimentos dos últimos 3 anos. E sem querer, esta pausa serviu para saborear melhor aquilo que eu tenho de momento. Foi um ano em que me entreguei aos chamados pequenos prazeres… Pequenos que, para mim, são os maiores. Nunca antes me senti tão próxima da família. Talvez a partida dela me tenha impelido a esta posição, talvez seja da maturidade, mas só agora sinto o que é realmente apreciar os meus, enquanto ainda aqui estamos reunidos. E a quantidade de almoços, jantares e ajuntamentos… Insana. A minha agenda bombou como nunca antes, disso não me posso queixar. Foi um ano em que entendi com uma clareza, nunca antes tida, atitudes de terceiros. Onde segredos foram descobertos, onde eu perdoei de coração quem não teve coragem para ser verdadeiro (ou pelo menos, inteiro, só mostrando aquilo que convinha). Foi um ano em que entendi que estou em paz caso o meu destino não seja absolutamente nada daquilo com que sonhei em tempos. Percebi que isto de viver é uma jornada, uma descoberta muito maior do que acordar, pagar contas, arranjar dinheiro e parir. Percebi que toda a minha vida via este processo da forma errada. Estando num emprego “perfeito” para uma grande maioria à minha volta, percebi que o meu futuro não passará por isto. Não sei quanto tempo mais vou-me deixando ficar mas estabeleci um limite. Os 29 ensinaram-me a amar-me, a valorizar-me e, principalmente, a não assentar por algo que não corresponda ao mesmo nível em que me encontro. Ah, também aprendi o significado, o valor, do casamento!
Não sei o que o futuro me reserva, não quero fazer grandes planos onde todo o meu destino está traçado. Apontei apenas numa direcção e tenho a certeza de que é a melhor escolha... E se não for, bem, só tenho de apontar numa direcção diferente sempre que bem entender.
Na ida,a viagem foi ao som do "Best of Olivier Ngoma" com o filme "Made in China" com a Regina Casé. O regresso com a banda "Air - all I need" e principalmente "Years and Years", e como filme, "O principezinho". Não, não acho que tenham sido acasos até porque eu tinha a minha selecção feita mas optei por cuscar o que me era oferecido pela companhia. Detalhes que são tanto.
Visitei Angola. De todas as viagens que tenho feito, esta foi a que mexeu mais comigo. Visitei o país que viu os meus nascer. Visitei o país que tinha medo de encontrar. Visitei uma realidade que me abalou de tal modo que ainda hoje não encontrei as palavras correctas para o descrever. Desde que sobrevoava a costa, via de cima cores novas, o amanhecer de uma cidade desconhecida, apaixonei-me. Não engano ninguém, para quem vai numa primeira fase não deixa de ser um choque mas eu estava, de facto, preparada para o pior e cheguei a ser surpreendida pela positiva.
Eu não tinha noção da necessidade de conhecer este canto do mundo até lá estar. Conhecer família que se julgava perdida para sempre, abraçar família que nunca vi mas que senti instantaneamente o amor que existia. Abraçá-las pela primeira vez foi um momento tão afectuoso, tão completo que a única coisa que consegui fazer foi chorar. Apaixonei-me pelos primos que não conhecia, pela pureza das almas, pelo carinho com que fomos tratados. Descobrir os locais, as belezas naturais e perceber que a eles só falta o acesso a melhores condições de saúde e de educação porque o resto, que é tanto, eles têm . Fez-me ter uma perspectiva muito diferente da vida. Não, não acho mesmo que em Portugal sejamos muito mais avançados como nos querem fazer acreditar. Temos casas e educação, é verdade e é claramente um beneficio incomparável mas há tanta coisa que lá ainda dão importância que aqui já está perdida que fiquei a questionar quem é, realmente, o evoluído. Fiquei com vontade de conhecer o país de lés-a-lés após visitar a praia quase deserta, a cachoeira, ver os vestígios da guerra, encarar o pó tão típico. O encanto que foi ouvir as histórias da guerra e perceber o quanto esta danificou a mente dos meus tios que nela foram obrigados a participar… Perceber a bondade e a tristeza da minha tia mais velha que passou por tanto, perceber que a minha tia mais nova tem a genica, a humildade e a paciência da minha mãe. Perceber que eu partilho muito da personalidade do meu tio e tornou-se um dos que mais me marcou… Perceber que ali ficou um pedaço do meu coração, ali, onde nunca antes tinha estado e que me senti de imediato em casa no primeiro minuto. Para sempre vou-me recordar da noite de consoada e de natal, com a lua como candeeiro a partilhar histórias e conhecimentos, encantada com a pureza e simplicidade do momento. Sair de lá com o coração na boca porque a verdade é que não sei se teremos a hipótese de estarmos juntos… Saber e aguardar com toda a esperança do mundo que sim, isso irá acontecer. O restante da viagem resume-se em estar com as amizades que me acompanham desde a minha adolescência. Foi bom cimentar e perceber que há, de facto, pessoas com quem tudo flui com naturalidade. Passagem de ano pacífica, a agradecer o ano fabuloso que tive e a desejar uma continuação de boas colheitas para 2016. Foi a despedida que 2015 merecia, uma viagem que foi exactamente como era suposto ser, uma viagem perfeita.