Ontem parei para pensar e analisar o quanto a vida é matreira. Depois de tentarmos tanto nos afastar um do outro, depois de provações imensas, depois de termos de lidar com a doença e a morte de perto ficou apenas uma certeza: Estamos juntos somente porque queremos estar juntos. E a partir daí tudo se tem dado, naturalmente, sem esforço. Temos começado a construir isto da melhor forma que sabemos. E sabe bem, verdadeiramente.
Deu para visitar o Pavilhão do Conhecimento, que já não acontecia há muito. Jogar ao Uno, tê-lo a dormir comigo pela primeira vz em minha casa e sentir o amor de uma família feliz. De facto, a felicidade é visível, soube-me bem vê-los juntos, felizes, apaixonados... Olhar para eles fez-me acreditar no amor verdadeiro, sim ele existe e eles são a prova viva disso. Fiquei de coração cheio.
A nossa visão sobre o amor anda toda trocada. As expectativas, os sonhos, a ideia de que só alcançando as metas que definimos na nossa cabeça fará de nós felizes faz com que estraguemos o amor! A sério, parem e pensem. Relativamente a amores que envolvem sexo (as relações pois claro) temos tendência a seguir o roteiro que nos foi incutido - conhecer/namorar/casar/ter filhos/morrer! Isto sem esquecer que todos estes passos acontecem seguindo 50 mil trâmites para ser considerado o correcto - o namoro tem de ser assim, ele/ela tem de se comportar assado, não pode isto, tem de aquilo… Enfim! A sociedade incutiu-nos ideias tão fixas sobre o que deverá ser aceite, o que deverá ser considerado válido que, invariavelmente, esquecemo-nos de nós, do que para nós é válido!
Neste momento estou convicta que a vida flui muito melhor se descartarmos todos os preconceitos que temos para o que ela deverá ser. Na vida e, consequentemente, nos relacionamentos amorosos. A vida tem nuances que nunca poderão ser previstas e identificadas antecipadamente. A nossa qualidade de humanos idem, então como poderemos tentar direccionar tudo o que nos vai acontecendo na tentativa sempre vã de alcançar o nosso sonho?! O que não percebemos é que aquilo que delineamos como sendo o nosso sonho pode ser um resultado completamente deturpado da nossa real vontade ou até mesmo impossível de realizar.
Simplificando a coisa, passamos muito tempo a construir castelos nas nuvens baseando-nos sempre naquilo que nos foi dito que seria o ideal, sem pararmos para pensar se tudo é mesmo necessário.
A melhor descoberta dos últimos tempos, na minha experiência pessoal, tem sido o desapegar-me desse rumo pré-definido. As coisas são o que são, há características que não possibilitam a transmutação daquilo que é, para aquilo que nós pensamos querer e perceber isso o mais rápido possível tira-nos pesos gigantes de cima.
É a história do “deixa andar”, do escutar o que o meu coração diz, o pôr a cabeça de lado. Não é ser inconsequente, mas sim aprender a respeitar aquilo que nós desejamos. Mesmo que para os outros seja complicado de perceber, porque não encaixa em nenhuma concepção predefinida e que levará a que dedos sejam apontados e julgamentos sejam criados, desconfiando das nossas atitudes, a leveza de fazer aquilo que queremos no matter what é o suporte mais do que necessário para saber que estamos a fazer o correcto. Isto é um processo moroso, que não se apreende de um dia para o outro. Aprender a desligar as vozes contrárias da nossa cabeça, leva tempo, o aprender a viver o hoje leva tempo... Porém é gratificante, porque passamos a ver as coisas de forma diferente, muito mais leve. “Se não for, não é; e foi bom enquanto durou e siga para bingo”. É assim, por ser tão simples, tornamos complexo. Porque é isto, no fundo resume-se apenas a uma coisa: “Ter um rumo não é o mesmo que ter um guião.” Lembrai-vos disto de futuro.
E com esta história do mano entrar por esse caminho (e que apoio incondicionalmente) toda eu fico com medo de ele se deslumbrar em demasia e perder-se. Aliás, eu e o resto da família. Ele sempre foi o Benjamim, o menino bem educado, bem comportado e exemplar. O coração fica apertado cada vez que penso no que aí virá e rezo aos santinhos todos que o bom senso a que sempre foi habituado vingue. Esperemos que sim.