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(+) Uma maluca que julga ter juízo

Desabafos e bocados do que vou (vi)vendo...

(+) Uma maluca que julga ter juízo

Desabafos e bocados do que vou (vi)vendo...

Quanto à matéria do DN (here we go)

 “Racismo é um sistema estrutural de opressão institucionalizado, essa conversa não é sobre sentimentos e sim sobre discriminação premeditada, limitação forçada de oportunidades, perpetuação de crenças e falácias, hipersexualização da pessoa negra ou afro descendente e não brancas em geral e silenciamento colectivo das pautas anti-racistas.” – Mel Gamboa

Vamos ver se entendemos uma coisa. Vocês acreditam mesmo que ao escreverem comentários como “agora os pretinhos até brincam com os brancos no recreio da escola” é argumento válido para confirmar a inexistência de racismo estrutural no país? De verdade que é esta a capacidade argumentativa do belo do português? Estamos neste nível?
E quando dizem “ah mas em angola também fui vítima de racismo” sendo que o simples facto de se ter dirigido para angola para ocupar cargos infinitamente melhores do que aqueles que a população ocupa e ganhando mais, ou seja, uma demonstração crua dos benefícios que a sua pele ainda tem nestes países (herança sim do colonialismo) e vem com mimimi de que racismo não existe, ou porque racismo inverso?

Racismo inverso é impossível de existir porque NÃO HÁ, neste espaço – tempo, qualquer realidade em que brancos vêm os seus direitos ameaçados face a outros tons de pele… Isso não existe. Não é porque “ah porque lá os pretos olhavam para mim com raiva" sendo que, volto a dizer, o seu tom de pele permitiu que ele ocupasse lugares que poderiam ter sido ocupados por negros. O Preconceito por si só NÃO É sinónimo de RACISMO. E qualquer pessoa que ainda fiquei a bater os pés tipo criança mimada é somente desonesta intelectualmente (ou ignorante, muito ignorante).


Coisas que percebo sobre o sofrimento e a desnecessidade de vingança.

Quando a pessoa é boa mas errou, ela própria será o seu carrasco, o seu torturador, a sua própria consciência será o seu castigo, a pessoa sozinha irá tratar de se auto - punir. Para quê chegar o outro e ainda criticar e apontar o dedo e mostrar que "cá se faz cá se paga" com atitudes mediocres?

Se a pessoa for de má índole, imatura, no fundo ignorante, qualquer esforço da parte do outro de punir, magoar é apenas e só um gasto de energia, ou seja, a meu ver desnecessário.
A vingança deixou de me fazer qualquer sentido.

Sim tenho vagina, não não quero ser congratulada por isso!

Há uns valentes anos lembro-me de aqui escrever que embirrava com a congratulação de que era alvo neste dia só porque tinha vagina. Sempre me fez confusão mas no fundo eu nem sabia explicar o porquê dessa embirração. Dizerem parabéns porque alguém lutou pela igualdade em tempos seria o mesmo que no dia da independência por-me a congratular  toda a gente e dizer "parabéns pela batalha", simplesmente não me fazia sentido algum. Hoje, com mais conhecimento (haja crescimento) já entendo o porquê. Continuo a detestar que eu passe na rua e me seja oferecida uma flor quando, ao cruzar a esquina imediatamente a seguir, tenho um otário a assobiar porque vou de saia. Irrita-me esta gente que não entende que eu não quero que se faça uma parada a enaltecer a vagina, eu quero mesmo  é que me respeitem. Eu quero que não seja aquilo que fica entre as pernas que defina a aptidão de um novo emprego. Eu quero mesmo, mesmo muito, que parem de achar que é a minha vagina que dita a necessidade de andar de saia, usar maquilhagem, ficar calada e obedecer. Eu quero que entendam que este dia não é para ser tomado como uma celebração individual, para lembrarmos  as mulheres que mais amamos de que são amadas mas sim que este é um dia de luta. É para isso que este dia serve, para lutar e relembrar a todos os machistas que ainda ai estão (e desengane-se aquele que acha que machismo só existe em cabeças de humanos que nasceram compilas) que ser mulher é ser humano, com todas as diferenças que isso acarreta, um dia para quebrar preconceitos e abraçarmos a diferença. Só isto…

Engraçado

Agora acalmou um pouco mas há uns tempos parecia que havia uma competição pela blogoesfera sobre quem lia mais e em menos tempo. Devem ter sido os efeitos daquela propaganda de "leia mais" que se ouviu muito por aí. Pois é, esqueceram-se foi de dizer que o ler mais não é só romances manhosos, tem de ser transversal, ler sobre tudo para que o conhecimento amplie. Caso contrário, ficando-se apenas pela novela das 50 sombras, não se conseguirá aprender por aí além... just saiyn!

A mochila da Joana

Pronto, agora está tudo muito revoltado com as palavras da Joana Vasconcelos. O que as pessoas não entendem é que há pessoas que, de facto, tiveram a sorte de ter uma vida privilegiada tal que se torna impossível terem o mínimo de empatia, de capacidade de se colocar na situação do próximo porque não conseguem conceber, alcançar a tragédia alheia. Talvez fosse mais correcto a quem fez a entrevista explicar muito bem o pormenor de não ser uma piada e sim um exercício de sensibilização de verdade, talvez aí a senhora alterasse as escolhas. E caso isto tenha ocorrido e ela se tenha mantido com a lista é seguir com a vida e aceitar que haverá sempre pessoas privilegiadas que nunca saberão o que é a pobreza, a desgraça alheia. Foi infeliz, muito, e é só.

Tudo, bem explicadinho...

Fernanda, preciso te contar uma coisa: estamos em 2016 e a escravidão acabou há 128 anos. Sei que é pouco tempo, mas já deu pra se localizar no contexto social em que vivemos e aprender a olhar o mundo com empatia, ainda mais quando o acesso a informação é tão fácil.

É triste quando mulheres reproduzem o machismo, mas a gente entende. Eu, assim como você, fui criada nessa mesma sociedade machista. Só que quando mulheres cultas, chamadas de intelectuais e com acesso a informação reproduzem um discurso falso é complicado de lidar.

E, olha só, você tem acesso a toda essa informação. Você mesma deixa isso claro no seu texto. E falar que a diferença com que o mundo trata homens e mulheres é biológica é quase criminosa: esse mesmo tipo de teoria foi utilizada para “comprovar” que negros deveriam ser escravizados. Esse é o lado que você escolheu ficar, Fernanda. O problema é que não é apenas nesse ponto que seu texto se mostra além de intelectualmente desonesto, racista e machista.

Que diferença biológica faria com que uma mulher ganhasse um salário menor do que um homem que ocupa a mesma função, tem a mesma experiência e educação? Que diferença biológica faz com que seus pares recebam mais do que você ao escrever um livro ou roteiro? Porque isso acontece, Fernanda. E não há diferença biológica nenhuma nisso.

“Tenho gratidão pelas babás que me criaram e que criaram meus filhos, cumprindo a função da mãe social, que nos tempos da vovó menina era feito pelas tias, primas, avós e irmãs da casa”

Mãe social? Você nota quão escravocrata é isso? Quem cria os filhos das babás? Filhos são feitos por um casal e é esse casal quem tem que arcar com sua criação com a colaboração de toda a sociedade, incluindo o chefe que acha que mulher sai demais quando tá com filho doente. Uma criança é um legado para o mundo.

“Minha babá era um avião de mulher, uma mulata mineira chamada Irene que causava furor onde quer que passasse. Eu ia para a escola ouvindo os homens uivando, ganindo, gemendo, nas obras, nas ruas, enquanto ela seguia orgulhosa. Sempre associei esse fenômeno à magia da Irene. O assédio não a diminuía, pelo contrário, era um poder admirável que ela possuía e que nunca cheguei a experimentar”

Antes de tudo, você sabe o que quer dizer mulata? Poderia ter dado uma olhada nos textos publicados nessa mesma coluna que você usa para espalhar seu parco conhecimento social e aprenderia com o texto A Mulata Globeleza: Um Manifesto:

“A palavra de origem espanhola vem de ‘mula’ ou ‘mulo’: aquilo que é híbrido, originário do cruzamento entre espécies. Mulas são animais nascidos do cruzamento dos jumentos com éguas ou dos cavalos com jumentas. Em outra acepção, são resultado da cópula do animal considerado nobre (equus caballus) com o animal tido de segunda classe (equus africanus asinus). Sendo assim, trata-se de uma palavra pejorativa que indica mestiçagem, impureza. Mistura imprópria que não deveria existir.
Empregado desde o período colonial, o termo era usado para designar negros de pele mais clara, frutos do estupro de escravas pelos senhores de engenho. Tal nomenclatura tem cunho machista e racista e foi transferido à personagem globeleza, naturalizado. A adjetivação ‘mulata’ é uma memória triste dos 354 anos (1534 a 1888) de escravidão negra no Brasil.”

Eu sei, você não é racista. Nenhum de nós o é. Mas, para dor e desespero de muito, não é a gente que decide isso, mas o outro. É quem olha de fora que pode dizer se você está ofendendo. É o negro que decide. Nós, brancos, não estamos acostumados com negros decidindo nada, mas é assim que o mundo funciona hoje em dia.

Além desse termo horrível, você fala que sua babá, que era negra ou não-branca, ouvia absurdos por onde passava. O que você chama de “homens uivando, ganindo, gemendo”, eu chamo de absurdos. Você imagina como ela se sentia? Você acha que algum desses caras gostaria de apresentá-la para a mãe, levar no almoço de domingo, desfilar com ela pela orla? Não, Fernanda, a maior parte desses homens querem transar com mulheres negras e casar com mulheres brancas. Infelizmente, no imaginário masculino, até hoje existe mulher para transar e mulher para casar. E continua sendo igual na época da escravidão. Pensamentos como esse corroboram para que esse imaginário se mantenha. Você já pensou em conversar com a mulher que trabalhava para sua família como babá o que ela achava desse assédio? Porque, assim, ela existe, é uma pessoa.

(E sobre esse assunto, tanto da hipersexualização da mulher negra quanto da sua solidão, indico três textos maravilhosos: A carne mais exótica do mercado, A solidão da mulher negra e o racismo cotidiano e Síndrome de Cirilo e a solidão da mulher negra)

Você ainda fala que inveja “o companheirismo dos homens, o prazer que eles sentem de estarem juntos e se divertirem com qualquer bobagem”. Será que o problema são as mulheres ou as relações que você vem travando com outras mulheres? Durante anos eu senti o mesmo que você. Só andava com os caras, queria ser um dos caras, queria ser como eles, ter amizades como as deles. E aí eu descobri mulheres incríveis ao meu redor. Mulheres que não competiam comigo nem eu com elas, mulheres que riam de besteira, dividiam o prazer de fazer nada juntas, que entendiam que tanta coisa nos unia e não valia a pena deixar nada nos separar.

O machismo não incomoda enquanto ele não é uma bela água batendo na sua bunda pelada. Uma água de banheiro público que esfria sua bunda quando você menos imagina. Aí ele incomoda. Mas existem contextos em que é fácil viver numa boa com o machismo e achar que ele se resume a ser machão. Machismo mata. Violenta mulheres. Acaba com vidas. Diz que tudo bem abandonar um filho. Faz parecer besteira a gente querer andar pela rua sem ser desrespeitada, seja verbal ou fisicamente. O machismo não é apenas um cara que gosta de transar, coçar o saco e falar besteira. Tudo isso a gente também gosta, inclusive de coçar.

“O Brasil está entre um e outro”

Infelizmente, Fernanda, o Brasil está mais perto da Índia e seus estupros coletivos que contam com a vergonha da mulher em denunciar do que da Alemanha e sua vontade de se distanciar da história de terror do seu passado. O flerte não é um problema, mas o flerte não é o assédio, não é a cantada de rua, não é a cultura do estupro que nos convence de que mulheres existem para servir os desejos sexuais dos homens.

“Uma vida de indiferença, onde todo mundo é neutro, não falo igual, digo neutro, sem xoxota, sem peito, sem pau, bigode, ah… é uma desgraça”

Não consigo entender de onde as pessoas tiram essa ideia. Quer dizer, entendo pessoas com pouco acesso a informação, que assistem programas em emissoras opressoras, acreditarem no que escutam ali, mas gente chamada de intelectual… As pessoas continuam tendo vaginas e pênis, seios, bigodes… Continuam transando, paquerando, dançando até o chão e talvez no colo do coleguinha. A diferença é que essas diferenças só existe ali, em mais nada. Adoro um pênis. Uma vagina também. Mas nada disso me importa na hora de contratar uma pessoa. Não me importa na hora de pagar bem quem oferece um serviço de qualidade. Não me importa quando alguém sofre violência. Não faz diferença nenhuma se tem peito, pinto, buceta, bigode. Ou se tem peito com pinto. Ou buceta com bigode. Vê a diferença? É sutil, mas está ali.

“A vitimização do discurso feminista me irrita mais do que o machismo. Fora as questões práticas e sociais, muitas vezes, a dependência, a aceitação e a sujeição da mulher partem dela mesma. Reclamar do homem é inútil. Só a mulher tem o poder de se livrar das próprias amarras, para se tornar mais mulher do que jamais pensou ser”

A parte mais importante desse trecho do seu texto é o MUITAS VEZES. Porque quando você o usa está assumindo que não é sempre assim. E aí falta empatia. Você não é uma má pessoa, mas comete o erro mais comum de todos: mede o mundo por você. A você falta essa vontade de ser livre? Essa força para lutar contra todas as amarras que você acha que precisa manter para ser “feminina”, “desejável”, “ter sucesso”? Porque, Fernanda, você não precisa. Você é refém de tudo isso. E é a exceção, aquela que comprova a regra. No final das contas você apenas está fazendo com que tudo o que a gente diz se prove ainda mais verdadeiro.

A gente não tá se sujeitando, tá apenas seguindo as regras que dizem pra gente que são as certas. Até o dia em que a gente abre os olhos, escolhe a pílula certa entre a vermelha e a azul, aguenta o clarão passar e começa a enxergar o mundo com mais objetividade, sem vendas nos olhos, nem as de renda que só deixam tudo meio confuso. E nesse dia a gente entende uma coisa incrível e que vai totalmente de encontro ao que você diz em seu texto:

“Nunca fui mulher o suficiente para chegar a ser homem”

O que eu te digo é que eu descobri que sou mulher o suficiente para não querer ser homem. E isso me torna completa, forte, plena e pronta para levar luz a assuntos que incomodem quem adora sentar no topo da montanha de privilégios.

Machistas não passarão. Racistas não passarão. Independente se são homens ou mulheres. Você ganha a minha sororidade - a tal amizade entre mulheres, sabe? — porque eu sei que não é fácil sair desse fluxo de obrigações femininas e silenciamento, mas não espere uma mão sendo passada pela sua cabeça: você é mulher o suficiente para ser melhor do que isso.

 

O verdadeiro feminismo, DAQUI

O que fica das informações do Facebook nos últimos dias

Em Portugal temos gente humana e consciente, gente umbiguista mas com algum sentido de humanitarismo  e gente mal educada e com cérebro de minhoca. Todos com acesso à internet para expor pensamentos, a sua falta de sentido critico e uso da moleirinha.
Resta-me a esperança de que os primeiros, aqueles que demonstram usar os dois dedos de testa sejam a maioria… Espero.

Uma chapada bem dada

Detachment (O substituto)

Não tinha, sequer, ouvido falar deste filme. No meio de tanto lixo que polula pelos cinemas acabei afastando-me de qualquer tentativa de história contada porque sentia que nada me preenchia. Até que, completamente, sem querer encontrei-o e devo dizer que era mesmo isto que precisava.
Um abre olhos para a sociedade em que vivemos, destruída na sua base criando este ciclo vicioso de tristeza, falsidade e destruição. E tudo porque procuramos algo que nos complete sem sequer pensarmos que aquilo que nos destrói é a distância que temos de nós mesmos… Tanto para analisar, tanto para pensar que é um óptimo acordar. Triste, elucidativo, brilhante.

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